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Plantio de cânhamo avança e Paraguai lidera produção na América Latina

Segundo dados oficiais do governo paraguaio, os ganhos para o produtor legal são oito vezes maiores, devido à possibilidade de vender não só a flor, mas todas as partes da planta, incluindo as folhas, caule e sementes


As sementes de cânhamo são usadas para a produção de vários alimentos que são vendidos

nos supermercados do Paraguai — Imagem: Divulgação



O Paraguai é o maior produtor de cânhamo na América Latina, com cerca de 5.000 hectares de lavouras cultivadas a céu aberto. O plantio, legalizado pelo governo desde 2018, não se restringe a grandes produtores.


Mais de 300 famílias de índios guaranis cultivam a planta da família da cannabis que não tem efeito psicoativo dentro de um programa de certificação do governo denominado Hemp Guarani.


Segundo a empresa inglesa de análise de mercado da cannabis Prohibition Partner, os agricultores paraguaios foram atraídos para uma fazenda legal de cannabis por não precisar mais morar seis meses nas montanhas para cultivar as plantas ilegais.


Além disso, segundo dados oficiais do governo paraguaio, os ganhos para o produtor legal são oito vezes maiores, devido à possibilidade de vender não só a flor, mas todas as partes da planta, incluindo as folhas, caule e sementes.


O governo paraguaio, em parceria com entidades privadas, fornece as sementes e garante a compra de toda a produção. Em 2019, foram cultivados 600 hectares de cânhamo e a área foi crescendo ano a ano.

“O governo paraguaio queria tirar famílias que produziam para o tráfico e apostou no plantio do cânhamo para a produção de alimentos por empresas locais. As empresas recebem a licença do governo e terceirizam o plantio. Há toda uma burocracia para garantir que está sendo usada a semente correta, mas é uma cultura de campo como a soja, sem barreiras”, diz o agrônomo Lorenzo Rolim, presidente da Associação Latino-Americana de Cânhamo Industrial (ou Laiha, na sigla em inglês de Latin America Industrial Hemp Association).


Os maiores plantios ficam nos Departamentos de São Pedro, Canindeyu e Caaguazu.


O agrônomo Lorenzo Rolim, presidente da Associação Latino-Americana das Indústrias do Cânhamo

Imagem: Divulgação



O agrônomo brasileiro iniciou a carreira trabalhando na Colômbia para a empresa canadense Canopy Growth, uma das líderes mundiais no plantio e comercialização de cannabis para fins medicinais.


Depois, viu no cânhamo industrial a melhor opção para o desenvolvimento da cultura na América Latina.


No Paraguai, segundo Rolim, além da exportação para Estados Unidos, Canadá, Austrália, Holanda, Reino Unido e Costa Rica, foi criado um mercado interno para os produtos do cânhamo.


Farinhas, azeites, grãos in natura e sementes misturadas com outros alimentos, como pasta de amendoim, são vendidos nas gôndolas dos supermercados. Há também uma grande demanda por rações para pet com as sementes de cânhamo e venda de cigarros de cânhamo com CDB.


O agrônomo, que trabalha como consultor das empresas e dos produtores paraguaios e viaja o mundo como representante do cânhamo da América Latina, destaca que as partes da planta sem o THC, composto psicoativo, são usadas em vários países para a produção de vestuário, calçados, papel, painéis automotivos, construção civil e vários outros produtos.


Diferentemente da parente maconha, que lembra uma árvore de Natal, o cânhamo é uma planta alta, esguia que pode atingir até 7 metros de altura.


O agrônomo diz que o rendimento para produção de fibras pode chegar a 15 toneladas por hectare, enquanto os grãos para alimentação rendem de 1 a 3 toneladas por hectare.


O agricultor vende o grão por US$ 1,30 o kg, mas o produto pode alcançar até US$ 4 na exportação. Se for descascado, sobe para US$ 8. Os custos de produção variam de US$ 700 a US$ 1.000.

“O Paraguai implantou um modelo muito bem-sucedido, voltado para a produção de cânhamo e não da cannabis medicinal, que deveria servir de exemplo para o Brasil”, afirma.



Plantio de cânhamo com irrigação por pivô no Paraguai, maior produtor e exportador da América Latina Imagem: Divulgação



O presidente da Laiha não considera como modelos o cultivo da cannabis na Colômbia, que foi o primeiro país a permitir o plantio junto com o Uruguai, único da América Latina que liberou todos os tipos de uso da planta, incluindo o recreativo.


Na Colômbia, diz, o número de licenças para plantio cresceu muito rápido, assim como a produção, mas a demanda não acompanhou.


Houve uma grande quebra de mercado em 2017, os preços caíram e havia um problema na regulamentação que não permitia o consumo interno, só a produção para exportação.


Além disso, as empresas produtoras eram multinacionais de medicamentos à base de cannabis com cultivos espalhados pelo mundo. Com as barreiras tarifárias e a logística dos fretes, o produto chegava na ponta mais caro, o que desacelerou a indústria na Colômbia.


“O Brasil está fora da onda da cannabis. O que temos no país hoje é uma exceção para importação que não atende interesses da população, do agro ou das empresas. Só supre a falta de medicamentos. O que precisamos é um debate sério a nível federal para discutir o cultivo da cannabis como um negócio, da mesma forma como é tratado nos Estados Unidos, Canadá, China, França e Austrália”, ressalta Rolim.

Segundo ele, o Brasil deve solucionar logo a questão do uso medicinal, que já tem eco na classe média e entre médicos e especialistas. “É uma questão de tempo para o Estado passar a permitir o cultivo medicinal. O plantio do cânhamo deve vir na esteira.”


Rolim também é favorável ao cultivo da cannabis para uso recreativo, uma alternativa ao consumo de cigarro e álcool. Ele diz que alguns Estados americanos já arrecadam milhões de dólares em tributos com a legalização do consumo adulto.


Na América Latina, segundo levantamento da Kaya Mind, empresa brasileira de consultoria de mercado da cannabis, 18 dos 33 países têm algum tipo de autorização para a cannabis e 16 permitem o cultivo do cânhamo industrial.


Nos países em que o cultivo foi implementado, aumentou a arrecadação do Estado e a geração de empregos.


Informações do Globo Rural.

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